FRACTAIS TROPICAIS

A minha abordagem ao cinema surge do desejo de desenvolver uma voz única e uma linguagem cinematográfica que desafie as normas estabelecidas do meu tempo. Assim, Tropicais Fractais segue uma estrutura de fábula literária. As personagens da narrativa representam ideias e posições sobre factos de enorme importância para a sociedade contemporânea. Ao usar o artifício do cinema, as personagens fictícias desempenham um papel maior na discussão de questões ambientais e tecnológicas urgentes. A partir de cinco anos de pesquisa sobre o estado atual da produção de conhecimento ocidental no campo da tecnologia de preservação ambiental, observei as ansiedades coletivas contemporâneas em relação a uma iminente distopia climática e o aumento do desenvolvimento de tecnologia de documentação digital e reprodução de imagens, que criou uma nova visão techno-colonial capitalista de dominação da Terra. Abordar estas questões requer uma procura constante por uma linguagem que evite reduções de géneros cinematográficos, bagagem cultural e repetições conceptuais de filmes anteriores. É adoptada uma nova perspectiva sobre essas questões, de forma a inverter a lógica do nosso mundo, no qual os países do sul global estão destinados a tornar-se um arquivo num centro de dados no deserto da Califórnia. Aqui, tornam-se os proprietários do arquivo da humanidade, da missão espacial e das ferramentas cinematográficas—da imagem, do movimento, do som, da imaginação—a poética do mundo.