ON PLAINS OF LARGER RIVER & WOODLANDS

A Tasmânia é um lugar, para mim, progressivamente nefasto em vários sentidos, e que não se extende apenas a um imigrante como eu. É claro que para alguém que vem de fora, os factores são um tanto ou quanto diferentes. Mas num sítio desprovido de cultura, de educação, de relações afectivas e humanas, qualquer um está vulnerável a uma vida fugaz, genérica, superficial e repetitiva, e paira uma nuvem de condenação sobre a juventude. Neste lugar, penso e sonho bastante com o meu passado – A infância, os anos de adolescência… e ao tentar criar paralelismos com estas pessoas e com o mundo que as acerca, vejo que me é quase impossível. São duas realidades, dois universos diferentes. A distância física entre um lugar e o outro, literalmente um em cada ponta do planeta, é tão vasta quanto as dissemelhanças entre os seus seres. O cinema mistura-se com a minha própria vida, que vejo de uma forma muito fatalista. Aquando da minha chegada, tive o desejo de fazer uma trilogia de longas-metragens na Tasmânia – em primeiro, as pessoas que aqui jazem perdidas e desalmadas, sem um propósito telúrico; em segundo, o olhar animal como testemunha de tempo e espaço e, em terceiro, um lado cósmico e sobrenatural acima de tudo e todos. Essa seria a minha bandeira para, enfim, voltar a casa. Porém, a Austrália não faz parte de mim, por muito tempo que aqui fique. Começou a fazer todo o sentido convergir e condensar estes três pontos num só, de uma forma mais livre, mais curta, no seu processo e no objecto final. Nunca fui dado a patriotismos, apegos ou saudosismos, e vejo por mim a voltar a tempos que já não me pertencem, a lugares que já não existem, e acima de tudo à ideia que a Austrália fez de mim português.